Nossa meta.

Brazil
Nossa meta é incentivar as pessoas sobre a importância de identificar os seus pensamentos automáticos negativos; principais responsáveis pelas alterações emocionais negativas de tristeza, depressão, ansiedade, pânico, euforia, irritação, raiva, ódio, deseperança, entre outras, que influenciam em nossas atitudes no cotidiano; causando açoes individuais, sociais e ambientais indesejáveis e ou destrutivas ao bem estar geral. Nossos pensamentos automáticos sobre os eventos formam e transformam a idéia que temos sobre as nossas capacidades e incapacidades de realizar as nossas metas e os nossos sonhos, porque alteram as percepções sobre si mesmo, sobre o mundo e sobre o futuro. Ou seja, nascemos vulneráveis de fato, mas a percepção que construímos sobre esta vulnerabilidade é fundamental para vivermos com qualidade.
Primeira diretoria da Oficina de Pensamento, eleita no dia 07 de dezembro de 2010: Presidente: Arnaldo Vicente. 1ª Vice-Presidente: Ana Maria Serra. 2ª Vice-Presidente: Oriana F. Grangel. Secretária: Viviane Nicoliello Siqueira. Tesoureira: Daniele Aiello. Coordenador de Comunicação: Lupércio Zampieri. Coordenador de Expansão: Leandro Grangel.

Incentivadores Internacionais:

Aaron T. Beck, Judith Beck e Frank Dattilio.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Notícias para sempre: A eficácia da TC no The New York Times

Pesquisas revelam bons resultados em depressão, pânico, vícios e outros males
ERICA GOODE - The New York Times

FILADÉLFIA - O Instituto Beck de Terapia e Pesquisa Cognitivas está atraindo terapeutas de todo o mundo. A organização também já despertou a atenção da Associação Nacional de Saúde Mental, que recomenda a terapia cognitiva a pacientes como uma das poucas formas de tratamento estudadas em ensaios clínicos e em larga escala. Pode-se dizer que a terapia cognitiva é hoje o braço da psicologia que mais se expande nos Estados Unidos. O fundador dessa forma de psicoterapia é o doutor Aaron T. Beck, cuja máxima preferida é: "Há na superfície muito mais do que o notado pelos olhos."
Estudos - O doutor Aaron T. Beck constatou, em 40 anos de pesquisas e trabalho clínico, que muitas dificuldades psicológicas de seus pacientes não se encontram nas profundezas do inconsciente, mas em "problemas de raciocínio", muito mais próximos da percepção consciente. O fundador da psicoterapia cognitiva cita como exemplo o caso de uma mulher que fazia sessões de psicanálise com ele, na ocasião recém-formado pelo Instituto Filadélfia de Psicanálise. Sentado atrás da paciente, ele fazia anotações em seu caderno, enquanto ela falava sobre suas experiências sexuais com homens. "Como se sente falando disso?", perguntou-lhe Beck a certa altura. "Fico com ansiedade", respondeu a mulher.
Interpretação - Preparado para sondar os conflitos ocultos de sintomas psicológicos, o doutor Aaron T. Beck respondeu com uma interpretação. "Você fica com ansiedade porque está precisando enfrentar alguns de seus desejos sexuais", disse-lhe. "E está ansiosa por achar que desaprovo esses desejos." E ela respondeu. "Na verdade, dr. Beck, receio que o esteja aborrecendo." Mais tarde, o psicanalista descobriu que sua paciente se entregava permanentemente a um monólogo autodepreciativo, no qual uma voz interior constantemente dizia que ela não tinha atrativos, não era interessante e não valia nada. Os "pensamentos automáticos" mostrados pela paciente, conforme Beck os chama, levaram-na a agir de modo derrotista, a ter conduta promíscua por não achar que tivesse muito a oferecer, ou a ser teatral, na tentativa de parecer mais interessante aos homens com quem se relacionava. A terapia cognitiva, desenvolvida pelo psiquiatra depois que ele abandonou a psicanálise, pretende ajudar os pacientes a corrigir tais distorções do raciocínio, com freqüência numa dezena de sessões - ou menos.
Método - Beck diz que o método é "simples e prosaico", sem trazer à tona lembranças da infância que se perderam, sem o exame minucioso dos desmandos dos pais, sem a busca de significados ocultos. "Ele tem a ver com os problemas do bom-senso das pessoas", disse. Na terapia cognitiva, os pacientes são incentivados a testar a opinião que têm de si mesmos e dos outros, como se fossem cientistas testando hipóteses. Os pacientes recebem dos terapeutas tarefas para fazer em casa. Aprendem a identificar suas "crenças" imprecisas e a fixar metas para alterar sua conduta. É um pacote atraente. Numa época em que os planos de assistência médica acompanham atentamente a sala de consultas e a maioria dos psiquiatras considera os medicamentos - não a conversa - o tratamento ideal para seus pacientes, o método de Beck mostra sua força terapêutica.
Princípios - Os princípios básicos da terapia cognitiva estão facilmente resumidos em manuais de treinamento e sua simplicidade a torna um instrumento ideal de pesquisa. Dezenas de estudos realizados no mundo inteiro mostraram sua eficácia no tratamento da depressão, ataques de pânico, vícios, distúrbios alimentares e outros males psiquiátricos. Pesquisadores também estudam a capacidade de o método tratar distúrbios de personalidade e, em combinação com medicamentos, doenças psicóticas como a esquizofrenia. "Não preciso estar certo", diz, "mas não gosto de estar errado". O médico também afirma considerar-se um pragmático. "Se uma coisa não dá certo, eu não a faço." Ele incentiva uma filosofia semelhante em seus pacientes, esperando que eles acabem se livrando das atitudes derrotistas. Aconselha uma mulher de 30 anos que acredita que Deus a castigará se ela própria não o fizer. "Você pode descobrir, se parar de se castigar e nada acontecer."
Fonte: Jornal Estadão

Revisão: ENTREVISTA COM JUDITH BECK, no Estadão.



'Não basta ir ao consultório e falar'
Filha do criador de escola da psicoterapia vista como americanizada, Judith defende pragmatismo e resultados de curto prazo.
Nem todos precisam remoer lembranças da infância para resolver problemas da vida de adulto. Assim como não é o fato de ir ao consultório e falar por uma hora duas vezes por semana com um psicólogo ou psicanalista que fará alguém modificar o que está incomodando em seu comportamento. Além disso, a psicoterapia não precisa durar anos, muito menos a vida toda.
Sem medo das contestações, as afirmações são da psicoterapeuta Judith S. Beck, diretora do Instituto Beck de Terapia Cognitiva e Pesquisa na Filadélfia e professora de psicologia clínica na Universidade da Pensilvânia. Ela é também filha de Aaron Beck, o criador, nos anos 60, do que ficou conhecido como terapia cognitivo-comportamental e que no mês passado recebeu o prêmio Lasker, um dos mais prestigiados da Medicina americana.
Baseado na tentativa de mudar a maneira com que cada um responde aos problemas, usando para isso estratégias e tarefas a serem aplicadas, o método se popularizou pelo mundo pelos resultados de curto prazo. No Brasil, é uma corrente bastante estudada em faculdades de Psicologia e ambulatórios de hospitais universitários que tratam distúrbios de ansiedade, humor e transtornos alimentares. É também difundida no meio educacional, em centros de pesquisa de Pedagogia. Leia trecho da entrevista que Judith concedeu por telefone ao Estado, de Porto Alegre, onde esteve em outubro para lançar seu último livro, Terapia Cognitiva para Desafios Clínicos (Editora Artmed, 272 páginas, R$ 45,60).
Pelos trabalhos com a terapia cognitivo-comportamental seu pai recebeu uma premiação junto com outros médicos que pesquisam câncer e biologia celular, por exemplo. Foi um tipo de reconhecimento científico da psicoterapia?
A terapia cognitivo-comportamental é uma das psicoterapias mais pesquisadas e uma das que têm mais trabalhos desenvolvidos em universidades e laboratórios. Durante décadas, as pessoas quiseram saber se a psicoterapia era eficaz ou não, se os tratamentos funcionavam ou não. Sempre houve estudos para outras patologias do homem, como diabete, hipertensão, dores de todo tipo. Na psicoterapia, na área da saúde mental, havia muito pouco. Meu pai foi um dos primeiros a buscar esse lado científico ainda nos anos 60. Atualmente há mais de 400 pesquisas no mundo que mostram sua eficácia.
É uma psicoterapia bastante criticada e também elogiada por ser pragmática, baseada em regras e com resultados de curto prazo. Para alguns, é uma versão americanizada da terapia. Essa é uma leitura superficial ou o objetivo é mesmo esse?
Sim, é mesmo uma psicoterapia bastante pragmática. É focada na resolução de problemas e busca ajudar as pessoas a mudarem sua visão, suas respostas e seus pensamentos. É uma resposta muito melhor,não só porque é feita em pouco tempo, de curta duração, mas porque é eficaz. Acredito que nem todas as pessoas precisam voltar ao passado e ficar discutindo sua infância. Elas precisam aprender a ser seu próprio terapeuta. Não é suficiente ir ao consultório e falar. Não é fazendo isso que a pessoa muda, que os problemas se resolvem. O necessário é fazer pequenas mudanças todos os dias.
Isso não faz com que se obtenham respostas imediatas, mas que, a cada novo problema, a pessoa precise voltar à psicoterapia?
Temos pesquisas que mostram que a terapia cognitivo-comportamental dá duas vezes mais garantia de que os pacientes com depressão não terão recaídas do que se tomarem apenas remédios. Ou seja, ela é de curta duração, mas produz mudanças de longo prazo. Porque a pessoa muda quando entende o que faz com que ela fique mal. As pessoas geralmente têm uma visão distorcida delas mesmas, acham que não são boas, que não fazem nada direito, e com isso não se sentem seguras. Quando identificam o modo como estão pensando e aprendem a reavaliar esse modo, observando os indícios, a pessoa entende que não é bem assim. O importante é o quanto a visão que ela tem dela e do mundo é apropriada.
Como mudar essas visões distorcidas sobre elas mesmas?
São habilidades, ferramentas que os pacientes vão aprendendo, que os ajudam a mudar a maneira como pensam. Em alguns casos, a medicação pode ser usada com a terapia, como para esquizofrenia. Em outros casos, é fazendo a pessoa ver. Por exemplo, uma das últimas pacientes que atendi antes de viajar era uma mulher de cerca de 40 anos que se achava uma péssima mãe, e isso lhe trazia muito sofrimento. Mas pelo que ela narrava, não era tão ruim como acreditava ser. O que eu fiz foi perguntar a ela o porquê disso e fazer ela recordar a reação dos outros, dos seus filhos, todos os seus atos. No fim, ela percebe que não é uma mãe tão ruim quanto pensava que era. E também identifica os pontos em que pode melhorar, fazer alguma coisa e começar a agir de outro modo.
A terapia é bastante utilizada para transtornos de ansiedade, de humor, fobias. Há alguns tipos de patologias para as quais ela tem mais resultados?
Ela é importante em vários tipos de coisas. Distúrbios de ansiedade, fobias, depressão, stress, transtornos alimentares e abusos de substâncias ilícitas. E não só problemas psiquiátricos, mas também fibromialgia, enxaquecas. Ou seja, todas as doenças que estão ou são relacionadas com o lado emocional das pessoas. Que envolvem algum tipo de interferência das emoções no corpo.
A senhora está preparando um livro sobre dietas. A técnica tem uma proposta específica para esse problema?
Não é um livro para dizer o que as pessoas devem comer. É um livro para leigos, para quem quiser perder peso. A primeira recomendação é a pessoa seguir qualquer dieta desde que seja coerente, razoável. O livro enfoca a maneira como a pessoa lida com a comida, por que seus regimes não funcionam e ensina algumas estratégias para, a cada vez que a pessoa pensar em comer, ela se lembre de que seu objetivo é perder peso.
Mas isso não é o que o bom senso já recomenda? É uma resposta suficiente?
A diferença é que existe um método a ser seguido. A cada dia a pessoa começa a aplicar algumas ferramentas específicas. Não é para pincelar uma recomendação ou outra e achar que vai emagrecer. É, aos poucos, ir mudando a forma de se comportar. Experimentamos o método com vários pacientes obesos, acima de 100 quilos, e temos tido excelentes resultados.
Muitos profissionais dizem que a terapia cognitivo-comportamental é indicada apenas para problemas menos graves. É isso?
Isso já foi verdade, mas há anos começou a mudar, principalmente com mais pesquisas que envolvem patologias mais severas, com pacientes com mais de um problema. Temos muitas pesquisas recentes, principalmente na Inglaterra, que estudam a terapia em pacientes esquizofrênicos ou com transtornos de personalidade. Ela tem se adaptado às novas demandas que os próprios terapeutas têm recebido em seus consultórios, sempre baseada em pesquisas.
Os problemas mentais têm mudado? Mudou o perfil dos pacientes ao longo do anos?
Parece que temos mais pessoas com problemas psiquiátricos, mas parte disso é porque as pessoas estão mais dispostas a procurar ajuda, apesar de ainda ser um estigma. Percebo que há uma disposição, uma conscientização maior. Mas temos visto um aumento de algumas coisas, como distúrbios alimentares.
Para responder a isso, os terapeutas devem mudar?
Devem se basear nas pesquisas mais recentes, mantendo-se atualizados. Essa é a abordagem que meu pai já adotava nos anos 60 e que deu origem ao sucesso do tratamento de hoje.
Jornalista: Simone Iwasso
Jornal O Estado de São Paulo, 22/10/2006

Aplicação da Terapia Cognitiva na depressão: análise de caso clínico


* Ana Carolina Diethelm Kley

Introdução

O objetivo do tratamento em Terapia Cognitiva no caso dos transtornos afetivos, grupo que engloba a depressão, é desenvolver dois pilares, a reestruturação cognitiva e a resolução de problemas, processo que será visualizado nesta monografia.

Podemos conceber a reestruturação cognitiva como a retomada da flexibilidade cognitiva obtida através da substituição de esquemas disfuncionais por outros mais funcionais. A parte de resolução de problemas, por sua vez, consiste no desenvolvimento da habilidade de lidar de forma prática com as dificuldades e desafios do cotidiano, definindo o problema atual, a meta a ser atingida, bem como estipulando, escolhendo e testando estratégias que serão avaliadas e, caso se mostrem insuficientes para alcançar o objetivo definido, revistas e modificadas para que o façam.

A paciente M.J., personagem principal desta monografia, foi escolhida por apresentar um diagnóstico inicial de depressão moderada acompanhada de sintomas ansiosos, o que possibilitava a aplicação da Terapia Cognitiva padrão e, por conseguinte, melhor aprendizado da estrutura básica deste tipo de processo terapêutico.

M.J. era uma mulher de 27 anos, branca, classe média, solteira, filha mais velha de pais divorciados após muitos conflitos, que morava com a mãe e a avó materna, e tinha uma irmã de 24 anos. Seu pai era vivo e morava com sua madrasta e enteados. Era formada em administração hospitalar e fazia um curso de especialização em RH na saúde. Antes dessa faculdade, já havia feito outras sem as concluir. Naquele momento, estava trabalhando. Namorava há sete anos e dizia não ter problemas com seu namorado.

Como queixas principais, havia desesperança, frustração profissional e necessidade de se cuidar mais, gostar mais de si e se sentir mais útil no trabalho. Queria emagrecer, apesar de não ter muita esperança de conseguir (a paciente estava visivelmente acima do peso, beirando a obesidade).

Como dados históricos importantes, havia o fato de M.J. ter vivenciado a separação muito complicada dos pais, ter sofrido abuso sexual quando tinha oito anos e ter sido obesa desde então, tentando emagrecer muitas vezes sem sucesso permanente. M.J. já tinha tido outro episódio de depressão aos 15 anos, quando chegou a repetir duas vezes no colégio.


Material e métodos

O método e os materiais utilizados tanto na condução do caso quanto no desenvolvimento desta monografia se basearam nos princípios da Terapia Cognitiva descritos a seguir:

1. “A Terapia Cognitiva se baseia em uma formulação em contínuo desenvolvimento do paciente e de seus problemas em termos cognitivos.”
2. “A Terapia Cognitiva requer uma aliança terapêutica segura”
3. “A Terapia Cognitiva enfatiza colaboração e participação ativa”
4. “A Terapia Cognitiva é orientada em meta e focalizada em problemas”
5. “A Terapia Cognitiva inicialmente enfatiza o presente”
6. “A Terapia Cognitiva é educativa, visa ensinar o paciente a ser seu próprio terapeuta e enfatiza prevenção de recaídas”.
7. “A Terapia Cognitiva visa ter um tempo limitado”
8. “As sessões de Terapia Cognitiva são estruturadas.”
9. “A Terapia Cognitiva ensina os pacientes a identificar, avaliar e responder a seus pensamentos”
10. “A Terapia Cognitiva utiliza uma variedade de técnicas para mudar
pensamento, humor e comportamento”.

A Terapia Cognitiva utiliza tanto técnicas de cunho cognitivo, como a identificação e desafio de PAN’s, quanto técnicas comportamentais e de gestalt. O diferencial, neste caso, é o objetivo: todas são utilizadas com o intuito de modificar pensamentos e crenças.

Exemplos de outros materiais utilizados no tratamento e que serviram como referência para esta obra foram:
- lista de Problemas e Metas
- identificação e desafio de pans
- quadro de atividades para planejamento de ações
- atualizações
- inventário de vantagens e desvantagens
- cartão de enfrentamento
- relatório de crença central
- teste histórico
- quadro de atividades adaptado para alimentação
- pensar em como funciona uma escada a fim de dar uma idéia de processo (nossas
metas são atingidas através de passos que se somam e se sucedem até chegar ao
ponto final)
- biblioterapia
- reestruturação das evidências a favor da crença disfuncional

As intervenções no processo clínico são baseadas no questionamento socrático e visam tanto o desenvolvimento e aprimoramento de habilidades, quanto a flexibilidade cognitiva[1]. Servem como auxiliares na execução do planejamento de intervenção idealizado pela terapeuta.

Além disso, em todas as sessões eram aplicados os inventários de Beck (Beck depression inventory, Beck hopelessness scale e Beck Anxiety Inventory) cujos resultados serviam como referência do progresso terapêutico.






Resultados

M.J. apresentou ideação suicida, ligada principalmente ao nível alto de desesperança (“as coisas não vão mudar”) e a um autoconceito ruim[2].

Podemos ressaltar, ainda, pensamentos negativos em três níveis:
- em relação ao self: “não consigo chegar onde quero”, “sou uma fracassada na área profissional”, “sou uma idiota”, “sou uma fracasso porque não consigo nem pagar minhas dívidas”, “não sou capaz de mudar”, “nada do que faço dá resultado”
- em relação ao mundo/ outros: “minha chefe sempre quer colocar a culpa em mim”, “meus pais não gostam de mim”
- em relação ao futuro: “a terapia não vai dar certo”, “nada vai mudar”, “eu não vou conseguir fazer o TCC”, “se mesmo com uma indicação não fui chamada para o trabalho, não serei nunca”

Sobre as crenças que M.J. apresentou, podemos identificar quatro idéias disfuncionais que se mostraram atuantes neste episódio depressivo, são elas:
- “sou um fracasso” (crença de incapacidade)
- “as pessoas não gostam de mim” (crença de não-estima)
- “sou a escória da humanidade” (crença de inadequação)
- “o pior vai acontecer e não saberei lidar com isso” (crença de vulnerabilidade)

Apesar destas crenças disfuncionais, com o decorrer do tratamento, o nível de depressão de M.J. começou a baixar, apresentando altos e baixos. Todavia, os escores da paciente, obtidos através dos inventários de Beck, se mostraram cada vez mais baixos se comparados àqueles apresentados no começo do tratamento, mesmo quando a paciente passou por situações emocionalmente perturbadoras[3]. Já no final, os escores zeraram por várias sessões consecutivas ou apresentaram números muito baixos, indicando que o humor já havia se estabilizado, o que também podia ser visto como um reflexo da retomada da flexibilidade cognitiva, bem como do desenvolvimento da habilidade de resolução de problemas e, portanto, remissão do quadro depressivo.

No final do trabalho terapêutico, M.J. apresentava crenças mais funcionais em relação às quatro áreas citadas acima:
- crença de capacidade:
“o fato de não saber tudo de todas as coisas não significa que sou um fracasso e sim
que sou humana. Sou uma pessoa genuinamente capaz”
- crença de estima:
“as pessoas se preocupam comigo, se mobilizam por mim mas têm vida própria e nem sempre podem fazer as minhas vontades. Algumas pessoas podem até não gostar de mim mais isso não quer dizer que todas não gostam (eu também não gosto de todo mundo)”
- crença de adequação:
“ não sou a escória da humanidade; sou boa, batalhadora, feliz, vaidosa, digna, solidária, humana e capaz”
- crença funcional de vulnerabilidade:
“em muitos momentos o pior pode não acontecer e, quando acontecer, conseguirei lidar com ele de uma boa forma”.


Conclusão

O processo clínico de M.J. foi bem sucedido uma vez que a paciente apresentou sinais de flexibilidade cognitiva mesmo em relação a idéias bastante rígidas inicialmente como a de incapacidade, de vulnerabilidade e não-estima. Além disso, pôde-se perceber que tanto o autoconceito quanto a noção de auto-eficácia de M.J. foram fortalecidas substancialmente durante a psicoterapia. Outra evidência importante do sucesso da terapia foi o fato de M.J. ter solucionado praticamente todas as metas da lista de problemas e metas inicialmente desenhada.

A única meta que não foi plenamente concluída durante o tratamento foi a de emagrecer. Isso ocorreu por uma série de fatores, entre eles, a dificuldade que a terapeuta teve em lidar com a esquiva da paciente e o surgimento de metas mais prioritárias como casar. Embora tenha ocorrido certa lentidão na conclusão desta meta, os obstáculos foram identificados e encaminhados, uma vez que questões importantes vieram à tona e foram trabalhadas (como a questão do abuso e os pensamentos permissivos) e M.J. passou a identificar e lidar melhor com suas permissões, a anotar o que comia e a praticar os exercícios físicos.

Um dos fatores que dificultaram o processo clínico foi o grande número de faltas da paciente no começo do tratamento bem como sua resistência em fazer os desafios cognitivos em sessão,. Além disso, a dificuldade da terapeuta em lidar com a esquiva de M.J. em fazer as tarefas de casa (principalmente relacionadas à questão alimentar) e também em intervir no que se referia às “atualizações dela”, acabaram por atrasar um pouco o progresso terapêutico, sem impedí-lo. Um fator que facilitou bastante o processo foi a generalização dos ganhos oriundos do trabalho terapêutico: no decorrer do processo, a paciente começou a utilizar as técnicas e intervenções feitas durante as sessões, o que a ajudou em alguns assuntos que não precisaram nem ser vistos em sessão.

O casamento de M.J. também acabou por facilitar a terapia já que foi uma oportunidade de identificar e desafiar idéias centrais como a de não-estima e de vulnerabilidade, bem como reforçar a crença de capacidade e a habilidade de resolução da paciente.

Ana Carolina Diethelm Kley
Psicóloga
Especialista em Terapia Cognitiva

São Paulo – SP
Avenida Angélica, 672 – conjunto 61
Fone: (11) 3662.4742
Blog: www.anacarolinakley.com.br
E-mail: anacdkley@hotmail.com


[1] Fonte: BECK, Judith (1997) Terapia Cognitiva: teoria e prática; tradução Sandra Costa – Porto Alegre: Artes Médicas

[2] Apostila sobre Terapia Cognitiva e suicídio – Instituto de Terapia Cognitiva Ana Maria Serra
[3] Como exemplo, temos a sessão em que ela pensou “se mesmo com uma indicação não fui chamada, não serei nunca” e seus escores foram BDI = 9, BHS = 6 e BAI =3, e, para se poder comparar, na avaliação, seus escores foram BDi =16, BHS = 6 e BAi = 17

sábado, 13 de novembro de 2010

Dra. Ana Maria esclarece e orienta sobre como adultos podem contribuir para que as crianças tenham um auto-conceito positivo.

A relevância do desenvolvimento de um auto-conceito positivo para a experiência de realização e bem estar em crianças e adolescentes

E como os adultos podem contribuir


O impacto dos comportamentos de uma pessoa sobre o seu ambiente social é grandemente responsável pelo desenvolvimento de seu auto-conceito.  Um auto-conceito positivo, desenvolvido desde muito cedo, é essencial para a adaptação e ajustamento do indivíduo e para a sua experiência de realização e bem estar.  Além disso, adultos podem contribuir de formas importantes para o desenvolvimento de um auto-conceito positivo em crianças e adolescentes sob seus cuidados e influência. 

Focalizemos dois eixos principais: como se desenvolve o auto-conceito em crianças e adolescentes e como os adultos podem contribuir positivamente. 

Primeiramente, o modelo cognitivo de funcionamento humano propõe que experiências relevantes precoces proporcionam a base para o desenvolvimento de esquemas cognitivos, e suas crenças correspondentes, sobre o self, o mundo e o futuro.  Nesse sentido, esquemas são definidos como superestruturas cognitivas que nos possibilitam inconscientemente processar estímulos internos e externos, transformando elementos sensoriais em nossas representações do mundo real.  Nossas representações ou interpretações de eventos e situações, por sua vez, emergem ao nível pré-consciente em forma de pensamentos automáticos, cujos conteúdos largamente determinarão nossas respostas emocionais e comportamentais.  E finalmente, nossos comportamentos, mais especialmente em função de seu impacto sobre o ambiente social, determinarão as bases de nosso auto-conceito.  Segundo esse modelo, a relevância de nossas experiências precoces na geração de nossos esquemas e crenças, de nossas emoções e comportamentos e, em ultima análise, de nosso auto conceito, é evidente e deve ser enfatizada. 

Em segundo lugar, destacamos que adultos – sejam eles pais, educadores ou cuidadores – devem usar tudo o que dizem e falam para desenvolver em crianças e adolescentes, sob seus cuidados, esquemas funcionais, particularmente em três áreas principais:  competência (cuja crença pode ser, por exemplo, “sou capaz intelectualmente”), adequação social (“sou adequado, legal, atraente, socialmente valorizado) e estima (“sou amado” ou “reúno os atributos para ser amado pelas pessoas”).  Da perspectiva da teoria dos estilos de atribuição, proposta por Martin Seligman e colaboradores, há formas através das quais adultos podem efetivamente encorajar o desenvolvimento de esquemas funcionais em crianças e adolescentes; ou, em outras palavras, adultos podem favorecer formas particulares de abordar crianças e adolescentes com a finalidade de proporcionar-lhes as ferramentas conceituais e práticas para que, no presente e no futuro, eles tenham um auto-conceito positivo e sejam capazes de experienciar gratificação.  Conceitos adicionais, como compaixão e solidariedade, podem ser igualmente encorajados, desde que tais conceitos podem contribuir para maior gratificação em seus relacionamentos sociais e afetivos, através de toda a vida.  

Um programa de intervenção foi aplicado no contexto de uma escola brasileira, com alunos do 3º colegial que estavam se preparando para os exames vestibulares, intitulado “Como lidar com as emoções em ano de Vestibular”.  Além dos alunos, o estudo envolveu também professores, coordenadores, e pais, e foi conduzido adotando como enquadre teórico a teoria dos estilos de atribuição.  O programa teve excelente resultados, no sentido de avanços dos alunos participantes, em aspectos acadêmicos e pessoais, bem como favorecendo grandemente os adultos envolvidos.  Os alunos que participaram do estudo tiveram um índice de aprovação nos vestibulares 34% superior aos alunos do ano anterior.  Destacamos a atuação, neste contexto, do conceito de “profecia auto-realizante”, que pode ser resumida conforme segue: quando prevemos um sucesso – por exemplo, no vestibular – essa “profecia” influenciará positivamente nossas emoções – por exemplo, tranqüilidade e segurança – as quais, por sua vez, contribuirão para a materialização de toda a nossa competência em nosso desempenho.  Entretanto, ao fazermos uma “profecia” negativa, esta resultará em um estado emocional adverso, que influenciará negativamente a expressão máxima de nossa competência.

Em resumo, devemos enfatizar o desenvolvimento de um auto-conceito positivo em crianças e adolescentes. No caso de falhas de processamento cognitivo, o conseguiremos através da re-estruturação cognitiva; no caso de reais limitações ou falhas, através do desenvolvimento de habilidades para a resolução de problemas. A auto-estima, ou seja, o gostar de si mesmo, será uma conseqüência natural de um auto-conceito positivo.  Ao contrário, porém, não pode haver auto-estima em associação a um auto-conceito negativo.  Portanto, o auto-conceito é o aspecto chave em que devemos concentrar nossas ações e intervenções com crianças e adolescentes.

Ana Maria Serra, PhD Psicologia e Terapeuta Cognitiva pelo Institute of Psychiatry da Universidade de Londres, Inglaterra.


Atenção: Curso de Especialização em Terapia Cognitiva Aplicada a Crianças e Adolescentes, nova área de concentração do Curso de Especialização em Terapia Cognitiva, oferecido pelo ITC – Instituto de Terapia Cognitiva) e credenciado pelo CFP-Conselho Federal de Psicologia, habilitando o concluinte à obtenção do Título de Especialista em Psicologia Clínica.  http://www.itcbr.com/.

Em 2011, Conferências Internacionais sobre Terapia Cognitiva com Crianças e Adolescentes: com os Drs. Mark Reinecke, da Northwestern University (11 a 13 de Março de 2011) e Philip Kendall, da Temple University (16 e 17 de Setembro de 2011), reconhecidos internacionalmente como os especialistas em TC com crianças e adolescentes.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Como você lida com a sua raiva?

Diante de uma situação podemos ter pensamentos automáticos negativos que nos façam acreditar que estamos sendo violados, injustiçados, contrariados, não compreendidos. Pensamos que as coisas deveriam estar ocorrendo de forma diferente, de modo a não atrapalhar a realização de nossas metas, objetivos, sonhos e desejos, e então sentimos raiva. Estes pensamentos não são elaborados e muito menos escolhidos por nós, eles são pré-conscientes e imediatos, construídos durante nossa existência; revelam uma forma idiossincrática de explicar nossas percepções sobre nós, o mundo e o futuro; determinando nossa emoção e comportamento situacional.
A raiva é uma das emoções mais importante para o nosso bem estar pessoal, social e ambiental.
Vamos conhecer como as pessoas lidam com a sua raiva objetivando uma troca de experiêcia que possa nos incentivar a desenvolver flexibilidade diante desses pensamentos.
Comente aqui como você lida com a sua raiva e com a raiva dos outros.

Postagem sugerida por Oriana F. Grangel, inspirada pelo site de Vera Martins: http://www.assertivaconsultores.blogspot.com/.